Por Ecio Costa
Apesar de já ter atingido o pico na maior parte das economias da América do Sul, a inflação ainda segue pressionada na maioria dos países da região, com exceções como Argentina e Colômbia que ainda apresentam elevação. A convergência da inflação para as respectivas metas internas de cada país levará algum tempo, pois diversos dos componentes analisados seguem pressionados na maior parte dos países, inclusive os núcleos, acompanhados mais de perto pelos bancos centrais.
Por conta disso, as taxas de juros devem permanecer elevadas por algum tempo na maior parte das economias, com poucas exceções, como o Brasil, que iniciou o ciclo de alta de juros antecipadamente. Os ciclos de alta dos juros ainda não foram interrompidos no México e na Colômbia e não há clareza definitiva sobre quantas altas adicionais serão realizadas. No Chile, Peru e Argentina, apesar do encerramento dos ciclos de alta, é possível que os juros permaneçam em patamar elevado por um período prolongado, até que o processo de desinflação se confirme.
O crescimento na América Latina deve desacelerar para 1,6% este ano, após notáveis 4% em 2022, segundo o FMI em seu mais recente relatório sobre o desempenho da região. Apesar de indicadores recentes apontarem para uma certa resiliência da atividade econômica na região, os juros elevados devem resultar em desaceleração do crescimento ao longo do ano. Como compensação, a expectativa de crescimento econômico mais forte na China nesse ano e políticas fiscais expansionistas na maioria dos países podem compensar ao menos parte dos efeitos dos juros mais altos.
Os países avançaram na direção da consolidação fiscal na maioria dos casos. Ao final de 2022, houve significativa redução dos déficits fiscais associados aos estímulos implementados durante a pandemia. O Brasil encerrou 2022 com um superávit primário. A alta da inflação contribuiu para que isso pudesse acontecer. Na Argentina, México e Colômbia, há uma expectativa de que a consolidação fiscal avance ao longo de 2023, mesmo com projeções de crescimento econômico mais moderado e taxas de juros mais elevadas. No Chile e Peru, discussões sobre a adoção de agendas fiscais mais expansionistas podem levar a uma piora nas contas públicas.
As agendas políticas dos países da região continuam sendo relevantes para a determinação do rumo de suas economias. O Brasil segue avançando com o arcabouço fiscal apresentado pelo atual governo em substituição ao Teto de Gastos, permitindo um aumento nos gastos com forte pressão no aumento de impostos para gerar receita. Na Colômbia, discussões sobre reformas estruturais junto ao Congresso trazem incertezas quanto à evolução do seu arcabouço fiscal. O Chile enfrenta um quadro parecido enquanto avança na proposta da nova Constituição, cuja votação está prevista para ocorrer ainda neste ano. Na Argentina, os ajustes fiscais e macroeconômicos acertados com o FMI serão pauta relevante para as eleições gerais de outubro e sofrem resistência. O Peru atravessa um cenário de forte instabilidade política em meio a alternâncias de cargos e diversos protestos.
Restaurar a estabilidade de preços é fundamental para uma economia saudável e para proteger os mais vulneráveis. Na atual conjuntura, isso requer desaceleração da demanda doméstica. As políticas devem ter como objetivo restringir a demanda para trazê-la de volta ao nível de produção potencial. Uma política fiscal mais contracionista ajudaria a desacelerar a demanda doméstica, permitindo que as taxas de juros começassem a cair mais cedo. Isso reduziria os riscos potenciais para a estabilidade financeira de manter as taxas de juros mais altas por mais tempo e ajudaria a reduzir os níveis de dívida pública, criando mais espaço político para responder a um eventual choque econômico no futuro.