Por Ecio Costa, professor e economista
A economia da China ficou muito próxima de apresentar deflação em junho, o que intensificou a pressão para que o governo chinês apresente um pacote de estímulos ainda mais fortes para fomentar a recuperação ainda lenta do país após a pandemia. O índice de preços ao consumidor (IPC) mostrou estabilidade na comparação anual e teve uma queda de 0,2% em relação ao mês anterior. Por outro lado, os preços na porta da fábrica tiveram a maior queda desde 2016, por conta do enfraquecimento na demanda por bens de consumo e manufaturados. É muito provável que novas quedas nas taxas de juros aconteçam no país, mas não devem ser suficientes e terão que ser complementadas com políticas de estímulo fiscal, para aquecer a economia.
Como a China é um importante parceiro comercial para muitos países da região, qualquer mudança em sua demanda por produtos pode afetar diretamente as exportações latino-americanas. Alguns pontos de correlação importantes são:
- Redução na demanda por commodities: A China é um dos maiores compradores de commodities da América Latina, incluindo minerais, petróleo e produtos agrícolas. Se a desaceleração econômica chinesa levar a uma queda na demanda por esses produtos, países latino-americanos que dependem fortemente dessas exportações podem enfrentar uma diminuição nas receitas e enfrentar desafios econômicos.
- Queda nos preços de commodities: A queda nos preços das commodities, influenciada pela desaceleração econômica chinesa e sua forte participação nas importações mundiais. Isso pode afetar negativamente os países exportadores de commodities da América Latina, reduzindo suas receitas de exportação e impactando suas economias.
- Impactos nas exportações de manufaturados: Além das commodities, alguns países latino-americanos exportam produtos manufaturados para a China. Se a desaceleração econômica chinesa resultar em menor demanda por esses produtos, as empresas exportadoras da América Latina podem enfrentar dificuldades para encontrar novos mercados ou reduzir suas exportações.
- Tensões comerciais com os EUA: As tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos também podem afetar indiretamente as exportações latino-americanas. Se esses dois grandes parceiros comerciais reduzirem suas relações comerciais, pode haver mudanças nos fluxos de comércio global, e os países da América Latina podem ser afetados se forem parte de cadeias de suprimentos afetadas pelas disputas.
- Oportunidades em setores de consumo: Por outro lado, se a China adotar políticas para estimular o consumo doméstico, pode haver oportunidades para países latino-americanos que exportam produtos de consumo para o mercado chinês. Empresas latino-americanas que atuam nesse setor podem se beneficiar do aumento da demanda chinesa por bens de consumo.
Em resumo, a desaceleração econômica da China e suas implicações nos preços de commodities, bem como as tensões comerciais com os EUA, podem ter impactos variados nas exportações dos países latino-americanos. Enquanto alguns setores podem enfrentar desafios devido à queda na demanda, outros podem encontrar oportunidades em segmentos específicos caso a China aumente o consumo interno e diversifique suas importações. Os exportadores dos países latino-americanos devem monitorar de perto essas tendências e buscar adaptar suas estratégias de exportação para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades no comércio com a China.