Por Ecio Costa*
A previsão de crescimento da economia brasileira para 2023 é baixa, segundo o Boletim FOCUS do Banco Central, um desempenho abaixo de 1%. Em 2022, porém, o crescimento surpreendeu as expectativas do início do ano, que eram de avanço abaixo de 0,5%, e agora, depois dos resultados dos três primeiros trimestres, indica que encerrará o ano acima dos 3%.
O setor de Serviços fez a grande diferença no ano de 2022. Último a se recuperar do baque sofrido com a pandemia, surpreendeu aqueles que não acompanham de perto o desempenho da economia brasileira, puxando os demais setores, indústria e agropecuária, junto. As exportações brasileiras também contribuíram, batendo recorde, muito puxadas pelas exportações de petróleo e seus derivados, mas também por outras commodities, que tiveram preços elevados nos mercados internacionais.
Mas 2023 não vai ter o setor de Serviços puxando o PIB e o setor exportador também pode passar por dificuldades. Os juros foram elevados na economia brasileira ao longo das inúmeras reuniões do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central, desacelerando o consumo e os investimentos para combater o maior dos males, a inflação, que ressurgiu com força entre 2021 e 2022.
Esse movimento, inquestionavelmente prudente, também foi tomado pelos bancos centrais dos demais países para conter o mesmo mal da pressão inflacionária que os tem atingido. A consequência imediata foi a desaceleração das economias mundiais, com previsão de crescimento menor em 2023 (2,7%) que em 2022 (3,2%).
Então, o cenário será mais difícil para o Brasil em 2023 por conta da queda no consumo mundial de commodities, que já vem derrubando os preços do petróleo, carnes, grãos etc., impactando o setor exportador brasileiro. O que se repete com os produtos industrializados exportados para economias vizinhas na América do Sul, mas também para os EUA e para a Zona do Euro.
No cenário interno, o consumo também apresentará queda, pois o custo dos financiamentos de eletrodomésticos, veículos, imóveis e outros bens de consumo duráveis ficou mais alto, freando o consumo. Os investimentos também tendem a diminuir porque o custo do capital ficou alto, inviabilizando projetos e por conta do risco da política fiscal proposta para os próximos dois anos pelo Governo Lula.
A política fiscal poder ajudar um país em estagnação, mas somente de forma temporária. No caso brasileiro, o aumento de gastos pode mais atrapalhar que ajudar, se causar retorno de inflação para a economia. Caso isso aconteça, os juros tendem a ficar altos por mais tempo, apesar da expectativa de queda para 2023 em relação ao atual patamar de 13,75%.
Os gastos oriundos da política fiscal ajudam no aumento do consumo e tiram a economia da situação de estagnação, mas se forem acompanhados de inflação, os juros permanecem altos e o país pode mudar de uma situação de estagnação em seu crescimento para o de estagflação, com baixo crescimento e inflação.
Para evitar o baixo crescimento, é importante a manutenção de um ambiente de reformas na economia e de responsabilidade fiscal pelo Governo Lula. A Reforma Tributária precisa finalmente ser aprovada, trazendo mais competitividade para a indústria brasileira na concorrência com bens importados e na penetração em novos mercados. Um arcabouço fiscal, que traga responsabilidade com os gastos e seu cumprimento, sem mudanças ao longo do percurso, traz estabilidade e redução de juros. Essa situação ajuda a economia na sua trajetória de crescimento sustentável.
*Ecio Costa é Professor Titular de Economia da UFPE, Colunista da CBN e Diário de Pernambuco, Economista Chefe do LIDE Pernambuco e Consultor de Empresas pela CEDES Consultoria e Planejamento.