Depois de o saldo da balança comercial ter encerrado 2018 em US$ 58,959 bilhões, o segundo maior resultado positivo da história, o mercado estima menor superávit em 2019, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia. De janeiro a novembro deste ano, superávit atingiu o US$ 41,079 bilhões, menor resultado para o período desde 2015. Segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, os analistas de mercado preveem superávit comercial de US$ 43,5 bilhões para este ano.
Com base em números como esse, Denis Tortolero, managing director da Pluscargo Brasil, avalia os principais acontecimentos de 2019 e o que pode ser esperado para 2020.
“Os números de 2019 falam por si só. Infelizmente, fecharemos o ano com uma retração nos movimentos de exportação e importação de aproximadamente 6%. Muitos fatores externos são responsáveis por esses resultados, como a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China; a elevação do dólar; a peste suína na China; e a crise política e econômica na Argentina. Além disso, tivemos alguns fatores internos que fogem ao controle, como a tragédia ocorrida em função do rompimento da barragem de Brumadinho (MG) e a crise ambiental decorrente das queimadas na Amazônia”, disse o executivo.
Ações efetivas para o Comércio Exterior decolar
Tortolero lamenta que praticamente não ouviu falar sobre ações efetivas para o desenvolvimento do comércio exterior brasileiro. “Não existe uma pauta de ações. A minha impressão pessoal é que essa área perdeu espaço e investimento. Muitas informações foram alardeadas como boas notícias, e, na verdade, não são conclusivas”.
O executivo cita como exemplo o acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia. Apesar de muito comemorado por todos, ainda é necessário que os 27 membros do bloco europeu referendem o negociado. Se um deles não aprová-lo, o acordo não prosseguirá. “Portanto, isso pode levar anos e há com grande chance de não se concretizar”, opina.
Para o executivo, o Mercosul, que foi a melhor voz dentro do cenário internacional nos últimos anos, recebeu um peso pequeno nas pautas. Segundo ele, isso aconteceu por intransigência politica, e também em função da grande crise politica e financeira enfrentada pela Argentina.
“Percebemos que com um pouco de esforço, nós podemos mudar esse cenário. Sabemos a sinergia que existe entre Brasil e os Estados Unidos, o que tornou possível os números positivos entre os dois. Por que não seguir com essa mesma linha com outros países estratégicos?”, aconselha Tortolero. Ele lembra também da recente reunião do BRICS no Brasil, que foi uma excelente oportunidade para alavancar negócios com mercados emergentes em 2020, principalmente com a China e a Índia.
Perspectivas para 2020
O executivo diz esperar que finalmente a pauta do Congresso Nacional seja destravada em 2020. “Desejo que o nosso governo pense com muito mais zelo no desenvolvimento do comércio internacional e que pense sempre na desburocratização e no incentivo fiscal do setor. Isso trará grandes possibilidades de geração de emprego, o que a nossa sociedade tanto precisa”.
O início dessa ação pode estar na discussão sobre o novo órgão de Comércio Exterior, anunciado em dezembro de 2019.
A boa notícia, segundo Tortolero, é que foi colocado na mesa o fim do acordo marítimo entre Brasil e Chile. Durante anos, essa foi uma grande barreira ao desenvolvimento comercial-econômico entre os dois países. Mas vamos esperar, para ver: “2020 esta logo aí!”, concluiu.