O 1° trimestre de 2022 foi marcado por recorde de importação e exportação e superávits na balança comercial brasileira, mas com um conflito entre nações em andamento e o residual de uma crise de saúde global, que ainda afeta diversas regiões, é possível ter uma visão otimista para o comércio exterior?
Neste momento, a China vive um período de lockdown pesado. E aqui, a gente detalha como isso afeta o comércio exterior: a China é o principal parceiro comercial brasileiro, são 33% de tudo o que o Brasil importa vem da China. E o principal hub de saída de carga da China é Xangai. Então, quando você tem o principal porto parado ou com grandes reduções em seu funcionamento, há uma retração no volume de carga de saída.
É possível observar a situação fazendo uma análise do preço do frete dos últimos meses, que você acompanhou pelo De Olho no Mercado, o informativo da Pluscargo sobre a situação do comércio exterior.
Se você pegar o frete médio hoje da China para o Brasil, que bateu na casa de 15-16 mil dólares no ano passado, no auge da crise logística, ele está na casa de 5-6 mil neste momento.
O preço do frete caiu 10 mil dólares em relação ao pico? Sim, pois houve uma retração de demanda. Há espaço de navio disponível. Então, se tem espaço em um navio disponível, o frete tende a cair.
O motivo de ter espaço disponível se a oferta de espaço é a mesma do ano anterior: a redução de oferta de carga no mercado. Essa retração já era esperada nas análises da Pluscargo. O boom após a primeira onda de pandemia se foi e a crise econômica, que atinge a China e diversos mercados, promove diminuição da demanda, aumento da inflação e cenário incerto para o consumo.
O conflito Rússia x Ucrânia
O conflito Rússia x Ucrânia também é um fator que afeta a cadeia logística em 2 pontos importantes: o comportamento de consumo global e os custos do transporte internacional.
A guerra na Ucrânia continua sem tréguas. Não há avanço nas tentativas diplomáticas, enquanto se observa uma escalada no envio de armamento para a Ucrânia. Isso fortalece o prolongamento do conflito e a devastação da vida de civis, economia e infraestrutura da Ucrânia. Do lado da Rússia, todas as sanções feitas até o momento mostram que o país terá uma elevada conta de natureza econômica para pagar, o que afeta o mercado internacional. Tudo isso promove instabilidade nas relações políticas, nas finanças dos países envolvidos diretamente à situação e os países que possuem negócios com as regiões afetadas. Todo esse cenário muda o perfil de consumo global.
A Rússia é um dos principais produtores de petróleo do mundo e é o principal fornecedor de gás natural para todo o Oeste Europeu. E, com o conflito, houve um aumento no preço do combustível no mundo inteiro. Esse aumento afeta diretamente o transporte internacional.
O preço do barril de petróleo influencia no combustível aeronáutico, no óleo cru, que é o principal combustível dos navios ainda hoje. Isso tende a mudar no futuro, já existem protótipos que utilizam combustível limpo e navios elétricos, além de compromissos assumidos pelos armadores de redução de emissão de poluentes. A situação no futuro pode mudar, mas não é a realidade de 2022.
Com o prolongamento do conflito, não há solução para problemas econômicos que afetam a logística internacional.
Como o cenário atual afeta importadores e exportadores brasileiros
A primeira dificuldade enfrentada é a alta da inflação, que já é a maior dos últimos 30 anos, provocando uma retração de consumo interno.
Para quem importa alguma coisa para o Brasil, ou vai importar partes e peças para montar um produto aqui ou vai trazer um produto finalizado para revender no mercado nacional, o cenário é incerto, já que o importador está vendendo menos e não tem certeza de quando poderá retomar o fluxo de venda.
Se você observar, o que foi comentado sobre o frete chinês no item anterior, pode parecer um paradoxo. A redução do frete mostra que o cenário é melhor para importar por valores menores na operação, mas sem a certeza de escoamento de estoque, não há a intenção de compra.
Além do cenário apresentado, as empresas enfrentam as mesmas dificuldades logísticas de 2020 e 2021 ainda por conta da pandemia de covid-19 e atrasos operacionais que impactam em toda a cadeia: transit times cada vez mais instáveis, rotas de navio que eram diretas, mas tiveram transbordos criados no meio, aumentando o lead time.
No Brasil, os servidores federais também promovem uma morosidade na operação. Recentemente, a Receita Federal trabalhou com a “Operação Padrão”, quando os servidores reivindicam direitos trabalhistas e reduzem a jornada de trabalho.
O impacto desse atraso é sentido das seguintes formas:
1- o transporte rodoviário internacional depende da alfândega, que é responsabilidade de Receita Federal. Anteriormente, os testes obrigatórios de PCR estavam promovendo um acúmulo de caminhões nas fronteiras, aumentando o custo do lead time. Agora, com a Operação Padrão da receita, o que se encontra é uma continuidade na demora do processo, o que mantém esse custo elevado.
2- O aumento de custos nas operações: a mercadoria entra no país, você não tem período livre de armazenagem, então você entra e já paga pelo primeiro período. E, se a receita Federal demora mais tempo para analisar seu processo, pode ser que incorra em segundo período de armazenagem, onde o valor de armazenagem sobe.
Em um cenário tão incerto, as empresas preferem esperar o momento ideal para fazer alguma operação logística.
Dicas de planejamento para a situação atual
Para manter a coerência para o cliente final, a dica dos especialistas da Pluscargo é fazer um planejamento de curto prazo. Período trimestral é o ideal para o momento. Na última quinzena do último mês do trimestre, converse com a equipe e parceiros para imaginar o trimestre seguinte. É a melhor coisa para que o cliente evite grandes erros de rota e grandes correções.
Além do planejamento, também é importante considerar a previsibilidade de erros e problemas. Em cenários instáveis há momentos que são possíveis de prever se você tem um parceiro ao seu lado que estuda sua operação e consegue identificar não apenas um booking mais rápido, mas que analise uma proposta de acordo com o momento da sua empresa e a necessidade. É importante que esse parceiro também possa deixar claro que a economia mais superficial de uma oportunidade nem sempre representa a economia no final da sua operação. Empresas sérias que consigam analisar o teu processo, que não estejam preocupados em fazer uma cotação de frete ou lucrar em uma operação específica.
Lembre-se disso: são os detalhes que aproximam o seu projeto de uma operação de sucesso!