Por Ecio Costa, professor e economista
O ano de 2023 trouxe muitas mudanças na economia brasileira. A transição do Governo Bolsonaro para o Governo Lula veio com uma mudança de orientação na política econômica muito mais voltada para o papel do Estado como o principal agente de fomento da economia, com a linha de pensamento sempre defendida pelo presidente e sua equipe. No início do ano, muitos anúncios de mudanças em direção oposta aos avanços da gestão passada assustaram o mercado, mas a apresentação do Fernando Haddad como Ministro da Fazendo trouxe alguma tranquilidade, pois apresentou um Arcabouço Fiscal para substituir o Teto de Gastos e mostrar compromisso com as preocupações fiscais da economia brasileira.
A definição de uma política de metas fiscais para os próximos anos também fez com que o Governo procurasse encontrar meios de aumentar a arrecadação para poder zerar o déficit fiscal em 2024, conforme planejado e anunciado. Em decorrência disso, muitas medidas foram tomadas nesse sentido, reonerando setores e criando novos impostos. A Reforma Tributária também avançou ao longo do ano, com uma proposta inicial mais simples que, ainda assim, tinha um imposto sobre valor adicionado dos mais altos do mundo. Mas, foi sendo modificada, com muitas exceções, o que pode resultar em pouco ganho de competitividade da indústria nacional, a depender do patamar a ser aplicado no imposto.
A inflação brasileira continuou cedendo ao longo de 2023, indicando convergência para a meta. O Comitê de Política Monetária do Banco Central deu início ao processo de redução da SELIC, que irá terminar o ano em 11,75%, mas continuará em 2024. Lá nos EUA, o Federal Reserve parou de elevar os juros durante o ano e, na última reunião do Fomc (Federal Open Market Committee) indicou que irá iniciar o processo de redução dos juros em 2024, já que a inflação também está controlada e convergindo para a meta.
O ano foi excelente em termos de resultado da balança comercial brasileira. O agronegócio bateu recordes sucessivos de exportações, também ajudado pelas exportações de commodities minerais e combustíveis, mesmo tendo uma redução nas cotações internacionais ao longo do ano. O resultado do saldo muito positivo foi intensificado pela forte redução das importações ao longo do ano. Esse resultado fraco em importações e a manutenção no valor exportado ajudaram o Brasil a chegar muito próximo de um saldo de US$ 100 bilhões, uma marca histórica.
A queda nas importações traz uma preocupação que se soma a outros indicadores de desaceleração da economia brasileira. No início de 2023, a expectativa era que o PIB do Brasil fosse crescer apenas 0,5%. O primeiro e o segundo trimestres trouxeram resultados acima do esperado, puxados pelo agronegócio e o setor de serviços. Já o terceiro trimestre foi preocupante. Com um crescimento de apenas 0,1%, ficou evidente que a economia está desacelerando fortemente, trazendo preocupações para o último trimestre de 2023 e para o ano de 2024.
O ano de 2024 será de um grande desafio para a economia e o comércio exterior no Brasil. A necessidade de equacionar a questão fiscal se mantém como uma preocupação constante e um esforço contínuo por parte do Ministério da Fazenda. Aparentemente, o esforço deve continuar apenar no lado da receita, pois não há movimentação política para redução de despesas por parte do Governo, o que torna a meta de zerar o déficit ainda mais difícil. A Reforma Tributária, sendo aprovada, trará profundas modificações na estrutura produtiva brasileira, e continuará sendo tema de inúmeras discussões ao longo de 2024. O ano será menos intenso em termos de aprovações de medidas menos populares, pois será no de eleição municipal, trazendo pouco interesse de congressistas e governo em discutir temas delicados.
Com os juros continuamente caindo aqui no Brasil e lá nos EUA, o crédito deve ser impulsionado, impactando diversos setores da economia brasileira, como os da construção civil, linha branca, automobilístico, impulsionando o consumo e os investimentos, que tiveram forte queda em 2023. Com uma perspectiva de queda nos juros nos EUA, a possibilidade de maior redução dos juros aqui no Brasil se intensifica, já que os investidores internacionais poderão migrar para os mercados emergentes, em busca de maiores retornos. O câmbio, consequentemente, deve sofrer poucas alterações, pois a queda nos juros do Brasil será acompanhada de uma queda nos juros americanos.
O comércio exterior deve continuar se beneficiando do ótimo desempenho que o agronegócio vem apresentando nas últimas décadas, com ganhos expressivos de competitividade. Há, porém, preocupações com os efeitos climáticos do El Niño em 2023, que pode reduzir a quantidade produzida, impactando as exportações em volume, em 2024. A preocupação também se repete com relação ao preço das commodities. A China, principal importador das commodities brasileiras, tem divulgado dados contraditórios em relação ao seu desempenho de crescimento, o que pode trazer impacto nas exportações brasileiras.
O Brasil optou por fazer parte da OPEP+ a partir de janeiro de 2024 e isso pode trazer consequências nas exportações brasileiras de petróleo, caso resolva aderir aos frequentes cortes de produção anunciados pelos membros. O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia parece não ter horizonte de curto prazo para uma definição que possa dar acesso aos mercados europeus. A Argentina, nosso terceiro maior parceiro comercial, deverá passar por um processo doloroso de ajuste fiscal e econômico já anunciado pelo novo Governo ao longo de 2024 que poderá afetar o comércio com o Brasil, mas com perspectivas positivas para os anos seguintes.
O ano que entra traz todas essas movimentações político-econômicas fazendo com que os empresários precisem acompanhar de perto cada um desses pontos mencionados, pois trazem impactos significativos nos seus custos, compromissos e resultados. O planejamento estratégico para o ano de 2024 precisa levar em conta os possíveis cenários e suas consequências e impactos diretos e indiretos.